Professora detalha desafios da participação feminina na Engenharia

Apesar dos avanços no mercado de trabalho, as mulheres ainda representam apenas 20% dos profissionais registrados nas diversas áreas da Engenharia no Brasil, segundo dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). Esse número reflete dificuldades que já começam na formação acadêmica e seguem na inserção no mercado de trabalho, como explica a professora dos Cursos de Engenharia da Wyden, Ivete Faesarella.


Com 19 anos de atuação na instituição, Ivete acompanha de perto os desafios enfrentados por alunas do curso. “Muitas vezes, elas relatam que suas próprias famílias não acreditam que possam concluir a graduação. Existe uma ideia ainda muito enraizada de que engenharia é uma área para homens”, conta. Durante rodas de conversa com estudantes, a professora já reuniu relatos de jovens cujos pais questionavam a escolha do curso, reforçando estereótipos de gênero.

A dificuldade de inserção feminina em áreas exatas, segundo Ivete, não é apenas uma realidade brasileira, mas um aspecto mundial. Profissões ligadas à educação e ao cuidado ainda são mais associadas às mulheres, enquanto carreiras tecnológicas e industriais seguem predominantemente masculinas. No entanto, as habilidades aplicadas na engenharia – como criatividade, raciocínio lógico e interesse pela tecnologia – não têm gênero.

Formada em uma época em que a presença feminina era ainda menor no setor, Ivete enfrentou barreiras para se consolidar no mercado. Trabalhando como gerente de produção em uma fábrica de bebidas, enfrentamos resistência de colegas homens, muitos mais velhos, que duvidavam de sua capacidade. “Foi um grande desafio, porque sem a confiança da equipe, implementar melhorias no processo se tornou mais difícil”, relembra.

Outro episódio marcante ocorreu quando, já participante na indústria, foi demitida sob a justificativa de que uma mãe não teria condições de gerenciar uma área de produção. Situações como essas sequências acontecendo com diversas mulheres que alcançam cargas de liderança.

Para mudar essa realidade, Ivete acredita que universidades e empresas podem adotar medidas concretas. No ambiente acadêmico, a presença de engenheiros no mercado compartilhando experiências pode ser um estímulo às alunas. Já no setor produtivo, programas de trainee voltados para mulheres podem facilitar a entrada e permanência no mercado.

Enquanto isso, a professora segue incentivando os alunos a persistirem na carreira, criando espaços de acolhimento e diálogo. “Algumas estudantes nem conseguem falar sobre as dificuldades que enfrentam, muitas não legitimam o próprio sofrimento. Eu sempre digo que elas não precisam abandonar seus sonhos. Existe uma rede de apoio que pode fazer toda a diferença”, conclui.

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